9.3.06

CACO BAIANO

Eu nem sabia da Bahia, quanto mais que Salvador tinha degraus. É. A cidade é dividida entre as putas sonsas e sedosas da cidade alta, e a calamidade estranha das mulheres-da-vida da cidade baixa. Pelo menos era assim pra mim.

Quando tive de “escolher”, é claro que fiquei com os baixos, exatamente como o que me tornei.
Nessas horas lembro da Cínthia. Era uma pequena deliciosamente safada, mas que nunca nem me olhou. Bem embaixo do Elevador Lacerda vivia uma menina que nem ela, só que era uma Cínthia do mundo bizarro, igualzinho aos desenhos da Liga da Justiça. Essa eu comi.

- Cinqüenta reais.
- Pago trinta!
- Quarenta. Completo!
- Quinze por uma chupada. Me dou por satisfeito.
- Paga dez. Fui com a sua cara.

Assim a conheci. A mulher que lembra a Cínthia. Boca Nervosa, assim a chamavam. Virei freguês.

Durante o dia eu andava por Água de Meninos, carregando navios. Era dos poucos que entendia a língua embolada dos amarelos que desciam por lá, vindos de sabe-se Deus onde. Nunca entendi o nome daquele bairro. Valeu a pena estar quase morto. Desaparecer.

A noite gastava um tanto do que tinha em cerveja barata, e botava pra correr quem tentasse fazer algum mal às meninas da tia Lurdinha. Só por diversão. Com a cara que ganhei da vida, nem era difícil assustar. Sumi. Eu e dez reais nas primeiras vezes. Depois ela disse que me amava. Não precisava mais do dinheiro, muito menos daquele lugar de nome singelo para um porto, Água de Meninos.

Trepar no São Marcelo entre a história, no meio do mar, era sempre mais gostoso. Dormir. Olhar o segundo andar da cidade, o alto. Os baixos sempre estavam por perto, comigo, também eram quase sumidos. Morriam todo dia.